2 de novembro de 2008

#7 - Em crise


Que o mundo está em crise não é nenhuma novidade. E não se trata simplesmente de que o mundo esteja no início duma grave crise económica, que também, senão que estamos ante algo mais amplo. Sem dúvida a dimensão económica é a mais importante e definitiva (tanto que levou a alguns autores a prognosticar o próximo fim do capitalismo, ou polo menos do capitalismo tal e como o conhecemos), mas este feito não deve obscurecer que a actual é também uma crise medioambiental, alimentícia, política e mesmo militar.

Por isso não resulta uma questão menor o resultado das eleições que se vam desenvolver dentro de pouco nos EUA. Um novo Imperador será proclamado e, a dia de hoje, Obama tem todas as papeletas para conseguir a coroa (será Obama o «Papa Negro» do que falam algumas profecias apocalípticas?).

Um dos elementos que aparecem como mais evidentes neste contexto é a decadência que desde há uns anos padecem os EUA. O Império desmorona-se e, em paralelo, uma série de países emergentes candidatam-se a potências do século XXI (principalmente a China mas também a Índia, Rússia ou o Brasil). Mas olho, não nos levemos a engano, porque os Estados Unidos continuam a ter, com diferença, o exército mais poderoso e o maior arsenal nuclear mundial. Além de algo mais importante, o país está predisposto a utilizar este poderio para manter a sua hegemonia como bem o demostra a história do século XX (ou mais recentemente as invasões do Afganistão e do Iraque).

Chegados a este ponto planteja-se uma questão. A vitória de Obama significaria uma actitude menos beligerante e o início do estabelecimento duma «nova orde mundial» verdadeiramente multipolar? Não nos precipitemos, recordemos que Obama nominou a J. Biden, um dos congresistas demócratas mais militaristas, como candidato à vice-presidência num gesto interpretado por alguns como o de tentar reafirmar o compromiso de Obama com o imperialismo norteamericano mesmo no o uso do exército.

A crise de Agosto deste ano, quando o exército georgiano invadiu Osétia originando uma rápida e eficaz contraofensiva russa em defesa dos osétios, dá conta da gravidade da situação. Neste caso não se trata dum conflicto ideológico, a China há bem tempo que abraçou o capitalismo e Rússia é tão pouco democrática como o são os EUA. Estamos, ao igual que a começos do século XX, perante uma dura pugna entre as potências imperialistas pola conquista dos recursos e da hegemonia mundial. A ampliação da NATO até as mismíssimas portas de Rússia e a colocação de mísiles em vários países do Leste de Europa, com o fim de criar o famoso escudo antinuclear por parte dos EUA e dos seus lacaios europeus, enquadra-se dentro da estratégia de isolar ao único país capaz de fazer frente militarmente ao Império. Mentres, polo outro lado, a consolidação da Organização de Cooperação de Xangai, organização que une a China e Rússia junto com outros países que compunham a URSS (e na que estão como observadores outros estados como Irão, Índia ou Paquistão), é um feito e aspira a poder actuar como contrapeso ante uma possível intervenção ocidental na sua zona de influência. Mas os cenários de enfrentamento são vários: o continente africano e os seus vastos recursos, o achegamento russo a Venezuela e Cuba, Oriente Próximo, etc.

E a situação ainda se complica mais se a isto lhe engadimos a crise económica. Recordemos que anterior «grande» crise, a de 1929, estendeu-se por boa parte dos anos 30 e deixou ao mundo no gume da navalha entre o sucesso da revolução socialista e a instauração de regimes fascistas, resultando portanto decissiva para o posterior estalido da II Guerra Mundial. Imaginades-vos as dimensões duma guerra mundial no século XXI? Quantos dias seriam necessários para destruir o planeta?

Estas questões e algumas mais dariam para falarmos durante horas e manifestar ainda muitos mais temores, mas como penso que já me estendim demais deixo-o por aqui, à espera do que aconteça nos próximos dias com as eleições nos EUA e com a «re-fundação» do capitalismo do G-20.

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