20 de outubro de 2008

#6 - Fim da fim de semana


Depois de tanto tempo sem deixar nada por aqui, hoje toca uma pequena ração de «costumbrismo». Já sabedes, cousas que não interessam a ninguém mas que, por enquanto, um tem que deixar por aí nalgures...

Pois sim, acaba de rematar uma fim de semana dessas sem história, sem emoções nem paixões. Todo se resume a ocupar-se da finalização dum curso através de Internet (desses que não servem para nada mas que tes que fazer para poder conseguir outras cousas) e preparar exercícios e cousas assim para as aulas desta semana. De jeito que não houvo escapada pola noite crunhesa para ver o que se cozia polos garitos, nem cervejinha fria (Estrela, por suposto) nalgum bar da zona.

Mesmo o domingo, com a sua ampla oferta de actividades, foi de casa e sapatilhas. No programa deste domingo podemos destacar, competindo no mesmo horário, o jogo do Deportivo e mais a manifestação convocada pola Mesa por la Libertad Lingüística (entenda-se a liberdade linguística exclussivamente dos espanhol falantes) contra a «imposição» do galego. Finalmente a preguiça levou-me a ficar na casa e seguir estes acontecementos desde a distância. Por um lado, o meu Deportivinho não passou do empate na sua visita a Santander. Um ponto é um ponto. Mentres, a espanholíssima manifestação na, tão supostamente espanholíssima, Crunha, segundo podo ler por aí foi um autêntico fracasso que não foi quem de congregar mais que a umas 700 pessoas (segundo as versões mais optimistas). Da contramáni é mais difícil saber algo, fala-se dumas 20 pessoas (para os «deste lado» sempre é a versão pessimista).

Já falando doutros assuntos tenho estes dias nas minhas maos o segundo número dum fanzine crunhês conhecido por alguns como Volfram. É um velho amigo o catalizador de tal evento que consigue concentrar numas quantas folhas anacos de uns e outros. Un esforço multidisciplinar onde as colagens dão passo ao texto, e o texto é a ante-sala dos desenhos das realidades do além e do aquém.
Velaí vem o gato, miau, miau!

P.S.: Nos últimos dias originou-se un debate sobre o envolvimento de Superlópez em certa detenção. Desde aqui só podemos negar tal suposto. Superlópez é Superlópez, e a polícia é a polícia.

3 de outubro de 2008

#5 - Superlópez


Pois não. Desta vez não se trata duma banda desenhada underground, nem tampouco da típica história sesuda e intelectual orientada a um público «adulto». Desta vez trata-se dum simples tebeo, sem outras pretensões que as de tentar entreter e divertir. Ainda que isso sim, um entretemento que procure ao mesmo tempo reflectir sobre a sociedade ou a cultura.

Desde logo não é que Superlópez, seja a «obra definitiva» da BD ou algo polo estilo. Certamente podem-se-lhe criticar muitas cousas (por exemplo esse moralismo tão acusado nalguns momentos como com o tema das drogas). Mas, ao mesmo tempo, estas histórias também têm uma série de virtudes que fazem que mereça a pena botar-lhes uma olhada. A começar polo seu humor tão próprio dos países do Sul de Europa. Um humor desintelectualizado, mas sinceiro e gráfico, de tortazos e com um toque de absurdo. Um humor de «bocadillo de chouriço».

Superlópez, a obra mais emblemática de Juan López, Jan, é ante todo uma paródia de Superman (e em geral das histórias de super-heróis). Superlópez, cujo equivalente na Galiza bem poderia ser um Supervasques ou um Superrodrigues (vaia, mais uma razão para sentir-me identificado), representa a imagem típica do espanhol comum, baixinho, moreno e com bigode. Todo um «Supermedianias», que constitui uma versão cutre do Homem de aço: o seu planeta e nomes originais, Chitón e Jo-Con-Él; a sua moça Luisa Lana (Lois Lane) namoradíssima do seu alter ego Juan López e que não suporta a Superlópez; os chichones que se pega; etc.

Mas como diziamos anteriormente também há lugar para a reflexão. Assim, em muitas das suas histórias podemo-nos encontrar a Superlópez viajando no tempo e conhecendo a V. van Gogh; um robot que cita aos clássicos da filosofia; críticas ao estrago produzido polo ser humano no meio ambiente; uma defesa do direito ao trabalho; etc.

Entre as mais de 50 histórias que até o de agora têm saído de Superlópez, a maioria da gente adoita coincidir em sinalar duas como as indiscutivelmente melhores. Por suposto, não lim todas as suas histórias mas sim poderia dizer que estas duas são realmente magníficas.

A primeira delas é Los Cabecicubos (1982) na qual se trata o tema da Transición espanhola com uma grande imaginação e humor (aviso: que ninguém aguarde uma leitura esquerdista sobre o período). A contaminação derivada duma fábrica de ovos quadrados produz uma estranha epidemia que converte à população em cabecicubos. A partir de aí desenvolvem-se toda uma série de situações absurdas (tão absurdas coma o próprio franquismo), nas que o nosso (super-)herói se terá de enfrentar a um regímen fascista de partido único.

A outra das histórias e que também é a minha favorita é La Caja de Pandora (1983). Desta vez, Superlópez terá de enfrentarse a toda uma plêiade de deuses e seres mitológicos das culturas grega, mexica, hindu e egípcia, por fazer-se com o poder da Caixa de Pandora. Mas o quê contém essa caixa, preguntaredes. Pois isso é algo que não vou revelar. Contentade-vos com saber que os deuses se dividem entre os que acreditam que alô se agocham todos os males para a humanidade e os que pensam que o seu contido é positivo. Se isto o mesturamos com um pouco de ufologia e naves espaciais já temos todos os ingredientes para uma história mais que notável.