27 de novembro de 2008

#9 - Urbano Lugrís (I Parte)



...O hipocampo. O violín morto no mar. A singladura entrevista na néboa da lenda alumiada pola luz pantasmal dun faro ignoto. Urbano arrendara un traxe de buzo na Dársena e dispúxose a pintar no fondo do mar. Foi o único pintor submarino da cultura occidental.
Antón Avilés de Taramancos. («Arte Submariña». Catálogo Exposição Antológica da Crunha. Agosto, 1989.)






Ulises Fingal
Lugrís amaba a Xulio Verne. Amaba a viaxe, a descoberta, as múltiples incidencias que ha de sofrir o valeroso aventureiro antes do regreso á eterna Itaca. Lugrís era devoto da Odisea, porque a Odisea é a máis perfecta e absoluta das estorias de aventuras. O seu mundo era o dunha perpetua saudade do mar, das rotas, das esquivas peripecias. Pero nas profundidades de Lugrís bogaba tamén o barco de San Barandán, soñado polos monxes irlandeses no seu exilio misioneiro de Renania. O abismo celtista latexaba alí, no centro da súa persoa, e por veces facíase evidente nas imaxes de San Gonzalo a predicar sobre un penedo de Foz no que estaba insculpido o trisquele. Lugrís, fillo de Lugrís Freire, o grande amigo de Eduardo Pondal, non era Urbano Lugrís somentes, era sobre todo, Ulises Fingal: Ulises, o navegador do mundo e do trasmundo, o grago de cando os gregos aínda non sucumbiran ao «logos» do puro razonar, se é que algunha vez Platón sucumbira; Fingal, o heroe gaélico que lle ordenaba coa súa rixidez cerúlea o camiño do outro mundo, os vieiros escusados dos Tuatha Dé Danan, as xentes irlandesas de debaixo da terra, o misterio de Brigadoon que cada cen anos emerxe da néboa dun val de Escocia para vivir a normal vida dunha cidade.

Xosé Luís Méndez Ferrín.





Reclamo a liberdade para Urbano Lugrís!

Nestes dias nos que se fala tanto de património cultural fai-se mais necessário que nunca reinvindicar e defender o nosso acervo colectivo. É o nosso dever denunciar o farisaico discurso institucional e mediático da «defesa do património» - os publicistas a cantar as glórias dum Faro candidatado ante a UNESCO, mentres se silenciam iniciativas populares que unem às gentes de além e aquém Minho ou se desatende a maior parte desse património que se di defender (milenárias pedras como as de Dombate).


E porque sim, porque Urbano Lugrís nos pertence a todas e todos nós, devemos reclamar a sua posta em liberdade. Que os perversos banqueiros apartem as suas sujas poutas do pintor crunhês. Que se ponha fim à vil utilização da sua obra em acções propagandísticas (a banca e os seus programas de actuação cultural e social). Deve-se pôr fim a este sequestro por parte do capital, fim aos passeios rituais do réu em ridículas e vergonhosas exposições que atentam contra a dignidade do autor. A de Lugrís é uma obra que lhe pertence ao povo e, como tal, deve ser devolta ao seu legítimo propietário.

Mas há outro Lugrís. O Lugrís que se resiste a ser encadeado e sobrevive nos muros e paredes de bares, tascas e outros espaços públicos. Assim, em lugares coma a taberna O Fornos na rua da Estrela (hoje La Bottega), em A Mundiña ou no café Vecchio da rua Real ainda nos continua a falar Ulises Fingal de antigas lendas célticas ou de histórias de navios naufragados. Mas este Lugrís também está em perigo. Nesta ocasião a sentença é a pena de morte. Por suposto, esta é uma sentença aplicada silenciosa e paseninhamente, o seu verdugo: o inexorável passo do tempo e a passividade de todas essas instituições que se dim defensoras do património.

Portanto, insistamos mais uma vez: reclamemos a liberdade para Urbano Lugrís !


7 de novembro de 2008

#8 - /Black Flag///








Police Story

This fucking city
Is run by pigs
They take the rights away
From all the kids

Understand
We're fighting a war we can't win
They hate us-we hate them
We can't win-no way


Walk down the street
I flip them off
They hit me across the head
With a billy club

Understand...

Nothing I do, nothing I say
I tell them to go get fucked
They put me away

Understand...

I go to court,
For my crime,
Stand in line pay bail,
I may serve time

Understand...

Black Flag (do álbume Damaged, 1981)

2 de novembro de 2008

#7 - Em crise


Que o mundo está em crise não é nenhuma novidade. E não se trata simplesmente de que o mundo esteja no início duma grave crise económica, que também, senão que estamos ante algo mais amplo. Sem dúvida a dimensão económica é a mais importante e definitiva (tanto que levou a alguns autores a prognosticar o próximo fim do capitalismo, ou polo menos do capitalismo tal e como o conhecemos), mas este feito não deve obscurecer que a actual é também uma crise medioambiental, alimentícia, política e mesmo militar.

Por isso não resulta uma questão menor o resultado das eleições que se vam desenvolver dentro de pouco nos EUA. Um novo Imperador será proclamado e, a dia de hoje, Obama tem todas as papeletas para conseguir a coroa (será Obama o «Papa Negro» do que falam algumas profecias apocalípticas?).

Um dos elementos que aparecem como mais evidentes neste contexto é a decadência que desde há uns anos padecem os EUA. O Império desmorona-se e, em paralelo, uma série de países emergentes candidatam-se a potências do século XXI (principalmente a China mas também a Índia, Rússia ou o Brasil). Mas olho, não nos levemos a engano, porque os Estados Unidos continuam a ter, com diferença, o exército mais poderoso e o maior arsenal nuclear mundial. Além de algo mais importante, o país está predisposto a utilizar este poderio para manter a sua hegemonia como bem o demostra a história do século XX (ou mais recentemente as invasões do Afganistão e do Iraque).

Chegados a este ponto planteja-se uma questão. A vitória de Obama significaria uma actitude menos beligerante e o início do estabelecimento duma «nova orde mundial» verdadeiramente multipolar? Não nos precipitemos, recordemos que Obama nominou a J. Biden, um dos congresistas demócratas mais militaristas, como candidato à vice-presidência num gesto interpretado por alguns como o de tentar reafirmar o compromiso de Obama com o imperialismo norteamericano mesmo no o uso do exército.

A crise de Agosto deste ano, quando o exército georgiano invadiu Osétia originando uma rápida e eficaz contraofensiva russa em defesa dos osétios, dá conta da gravidade da situação. Neste caso não se trata dum conflicto ideológico, a China há bem tempo que abraçou o capitalismo e Rússia é tão pouco democrática como o são os EUA. Estamos, ao igual que a começos do século XX, perante uma dura pugna entre as potências imperialistas pola conquista dos recursos e da hegemonia mundial. A ampliação da NATO até as mismíssimas portas de Rússia e a colocação de mísiles em vários países do Leste de Europa, com o fim de criar o famoso escudo antinuclear por parte dos EUA e dos seus lacaios europeus, enquadra-se dentro da estratégia de isolar ao único país capaz de fazer frente militarmente ao Império. Mentres, polo outro lado, a consolidação da Organização de Cooperação de Xangai, organização que une a China e Rússia junto com outros países que compunham a URSS (e na que estão como observadores outros estados como Irão, Índia ou Paquistão), é um feito e aspira a poder actuar como contrapeso ante uma possível intervenção ocidental na sua zona de influência. Mas os cenários de enfrentamento são vários: o continente africano e os seus vastos recursos, o achegamento russo a Venezuela e Cuba, Oriente Próximo, etc.

E a situação ainda se complica mais se a isto lhe engadimos a crise económica. Recordemos que anterior «grande» crise, a de 1929, estendeu-se por boa parte dos anos 30 e deixou ao mundo no gume da navalha entre o sucesso da revolução socialista e a instauração de regimes fascistas, resultando portanto decissiva para o posterior estalido da II Guerra Mundial. Imaginades-vos as dimensões duma guerra mundial no século XXI? Quantos dias seriam necessários para destruir o planeta?

Estas questões e algumas mais dariam para falarmos durante horas e manifestar ainda muitos mais temores, mas como penso que já me estendim demais deixo-o por aqui, à espera do que aconteça nos próximos dias com as eleições nos EUA e com a «re-fundação» do capitalismo do G-20.